Como todos sabem, estou no Japão por 1 mês treinando no Hombu Dojo, sede da Fundação Aikikai no mundo. Aqui teve um feriado prolongado por 5 dias então somente nos últimos 2 dias o dojo esteve aberto. Frequentei as aulas do Doshu Moriteru Ueshiba que começam as 06:30h da manhã e posso dizer que foi uma experiência bem interessante. A turma é lotada e sobra pouco espaço para treinar. As pessoas, de todas as idades e nacionalidades, chegam cedo e vão direto para o vestiário, até porque só é permitico estar no dojo por 30 minutos antes e depois das aulas. Quando o aluno chega, deixa os calçados no escaninho logo na estrada perto da secretaria onde se põe a carteirinha. O vestiário feminino fica no primeiro andar, onde há um tatame menor, e o masculino no mesmo piso do tatame principal, que fica no segundo andar. Cerca de 5 minutos antes do treino, um aluno avisa que é hora de todos se sentarem e então reina um silêncio impressionante até a entrada do doshu. Um pequeno cumprimento e é hora do aquecimento rápido. Quem, como eu, precisa de um bom aquecimento e alongamento antes da aula, deve chegar antes e fazê-lo sozinho.

O treino em si é bem leve e o doshu é muito descontraído, sempre circulando e conversando com vários alunos mas durante as demonstrações não há qualquer tipo de explicação. É preciso ficar bem atento. Por isso mesmo levei uma bronca de um aluno por limpar o suor do meu rosto durante uma demonstração. Diferente da maioria dos dojos brasileiros onde treinei, cada um escolhe seu parceiro de treino antes do início da aula e permanece com ele até o fim. Foi um pouco confuso para mim no começo porque sempre que nos sentávamos eu agradecia, o que não é necessário porque as duplas permanecem juntas até o fim quando, aí sim, as pessoas se cumprimentam. Nesta época, o dojo é muito quente e há avisos para as pessoas beberem água para evitar desidratação. Ao final todos rapidamente pegam vassouras, paninhos e aspiradores para limpar a sala e deixar tudo limpo para o próximo treino. Devido aos compromissos da viagem, ainda não pude treinar com outros senseis mas, nesse horário da manhã, as pessoas são bastante solícitas e compreensivas com a desorientação inicial (e natural!) dos estrangeiros, a não ser, curiosamente,  pela maioria dos próprios outros estrangeiros que treinam aqui. De qualquer maneira, é uma grande experiência. Era um sonho e recomendo a todos.

Imagem: Folha Online

Hoje começa uma viagem "aikidoística" ao Japão e que durará cerca de 1 mês. Nesse período, o "Onegaishimasu" terá textos previamente programados e talvez a resposta a comentários e
e-mails fique um pouco lenta, dependente da disponibilidade de rede encontrada lá.





Imagine a cena: você está lá em seiza, de olhos fixos no sensei que demonstra um técnica que deve ser executada depois. Se tiver sorte poderá estar focado no movimento dos pés, das mãos, na reação do uke, se é omote, se é ura, soto ou uchi. No geral, está muito feliz em conseguir identificar de qual técnica se trata. O sensei repete muitas vezes e você, intimamente, pensa: "entendi!". Aí se levanta, cumprimenta o parceiro e... nada. Na - da. Não lembra nem como começar a técnica, muito menos os outros detalhes. Pode parecer muito frustrante mas é muito comum, praticamente todos já passaram por isso algum dia, principalmente quando eram iniciantes. E o que fazer quando isso acontece? O melhor conselho que já recebi para esses casos foi: procure o sensei. Ele vai indicar a você exatamente o que deve ser feito, e de uma maneira que você consiga entender. Mas pode acontecer de existir muitas outras pessoas na mesma situação, ou o sensei estar muito longe ou em um seminário grande. Nessas situações, talvez não seja possível esperar uma atenção especial e é importante adotar outras estratégias para que o treino não fique parado. Algumas dicas:

Calma - não se desespere. Isso é uma fase, há muita coisa para absorver de uma só vez.

Observe os colegas - em boa parte dos dojos, faz parte da cultura que o aluno mais antigo inicie o treino em duplas ou em grupos. Isso permite que os alunos mais novos vejam mais uma vez a técnica e que a sintam ser aplicada. Pode ajudar e muito a entender o que se deve fazer.

Aproveite a dúvida dos outros - pode acontecer que você não tenha chance de perguntar sua dúvida mas alguém sim. então é bom parar e observar a resposta do sensei.

Só tire dúvidas com o sensei ou o instrutor - é sempre bom evitar fazer perguntas ao seu parceiro de treino, a não ser que seja algo muito rápido e básico (como "é um tenkan?"). Isso evita haja pessoas dando verdadeiras "aulas" paralelamente ao sensei, o que, além de desrespeitoso, pode povocar uma distorsão na técnica a ser treinada. Duas pessoas raramente tem a mesma interpretação e compreensão do que lhe é ensinado e o que meu colega me ensina é somente o que ele pôde captar da demonstração.
Escolha um detalhe para estudar - se estiver impossível de captar tudo, procure apenas um detalhe da técnica para treinar. Pode ser a movimentação, a fluidez ou até mesmoa intenção. Mesmo quando acreditamos estar apreendendo tudo, muitos aspectos da técnica ficam de fora. Aos poucos, observar fica bem mais fácil porque grande parte dos princípios já foi incorporada (depois de um tempo você não precisa mais fazer a associação mental irimi tenkan = um passo e um giro pelas costas).

Seja tolerante - nenhuma arte marcial é fácil e o estímulo está também nos desafios e em aprender mais e sempre. Pense no que foi aprendido e não no que se perdeu no treino.


*Tradução livre: 
o sensei: Todos agora vão praticar Yokomenuchi kotegaeshi kataneru...
o aluno: yoko o quê!?
a aluna: significa que você vai tentar me acertar acima da orelha, então vou torturar seu pulso e depois seu braço inteiro no chão...

—E aí, como você está se sentindo como faixa preta?

É o que eu ouço constatemente dos amigos no dojo, por e-mail ou telefone. E não sei o que responder. Não mesmo... Quer dizer, mudei a cor da faixa, sento na fileira da frente e algumas pessoas agora me chamam de "sempai" mas na essência nada mudou de verdade. O curioso é que eu também achei que seria diferente e fiquei esperando por isso então entendo as pessoas fazerem esse tipo de comentário mas o pai de um aluno me perguntou outro dia:

—Já começaram a te cobrar mais?

Humm... Talvez eu que não tenha percebido algo...







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