A aluna estava pela segunda ou terceira vez na aula de um grande mestre, muito ansiosa por estar ali e saber que ele geralmente treinava um pouco com cada um dos presentes. Claro que essa ansiedade atrapalhou porque enquanto ele aplicava a técnica cada vez mais firme, ela simplesmente escorregou e desastradamente o derrubou no tatame. Ele apenas sorriu mas ela ficou vermelha de vergonha…

Shame on meImagem: hope4survivors

 

IMG_5319
Novembro de 2006. Comemorações dos 43 anos de Aikido no Brasil
Hoje é um dia muito triste para o Aikido do Brasil. Recebemos da APA (Associação Pesquisa de Aikido) a nota de falecimento do shihan Kawai no dia 26 de janeiro. O sensei Reishin Kawai foi aluno direto do fundador Morihei Ueshiba e o introdutor do Aikido no nosso país. Aos 78 anos e, apesar de doente havia alguns anos, continuava a lecionar em sua academia no Jardim Bonfiglioli em São Paulo. Abaixo, um resumo de sua trajetória que foi basicamente responsável pelo número de praticantes atualmente. Domo arigato gozaimashita, sensei.

          Kawai Sensei como carinhosa e respeitosamente é chamado Reishin Kawai, é nascido no Japão em 28/02/1931.
          Tem o título de “Chukkyo-jo” (Bispo) desde 20/09/1952. Tem ainda os títulos de Doutor Honoris Causa em Teologia, Doutor Honoris Causa em Assuntos Jurídicos, Shihan de Aikido como orientador do Aikido no Brasil, Oitavo “Dan” (Grau) de Aikido da Fundação Aikikai do Japão. Em 01/10/1975, torna-se Representante-Geral da Fundação Aikikai do Japão no Brasil.
          Foi discípulo do Arcebispo e Cardeal, Doutor em Teologia “Tyokkyo Sho Yon-i” Nagayassu Minamoto. Na comunidade liderada pelo Doutor Nagayassu Minamoto, Reishin Kawai tem a formação religiosa e aprende os segredos da medicina oriental. Também, faz treinamentos de várias artes marciais, especialmente o aiki-no-jutsu.
          Nagayassu Minamoto é o representante do clã Minamoto, também conhecido como clã Genji, que tem importantes nomes na história do Japão. O patriarca da família foi Tsunemoto Minamoto que foi um “Sho Ichi-i” (equivalente ao atual cargo de primeiro ministro) e falecido em 961. Tem ainda nomes como “Dai i Dai Shogun” Toritomo Minamoto, “Shogun” Toshitsune Minamoto, “Dai i Dai Shogun” Takauji Ashikaga (1305-1358), “Bucho Dai i Dai” Shingen Takeda (1521-1573), “Dai i Dai Shogun” Ieyasu Tokugawa (1542-1616), além de outros dez nomes importantes. Estes, por sua vez, descendem da linhagem do Imperador Oojin (200-310) que foi reverenciado como deus das artes marciais e ficou conhecido como Hatiman Bossatsu no budismo e Hatiman Daimyo Jin no xintoismo, e mereceu o respeito de clãs dos Minamoto, Ashikaga, Tokugawa e de vários importantes samurais.
          Shigueru Yoshida (1878-1967) que foi primeiro ministro do Japão mantinha relações de amizade com o Doutor Nagayassu Minamoto, e sua mãe de criação era neta de Issai Sato (um importante sábio da era Bakumatsu, fim da era Tokugawa, de quem vário samurais foram discípulos). Tinha ainda entre personagens do círculo de relacionamentos do Doutor Nagayassu Minamoto, Hayato Ikeda, Ministro da Fazenda e Kojiro Tsutsumi, Presidente da Assembléia Legislativa com os quais, Reishin Kawai chegou a acompanhar em suas visitas.
          Em 24/11/1955, Reishin Kawai demonstra suas habilidades em aiki-no-jitsu e outras artes marciais, bem como nos conhecimentos da medicina oriental no Templo Tokyo Meguroku Gohyaku Rakanji.
          O Monge Okoi, que foi assessor de “Taisho” (General) Taro Katsura, um ex-Primeiro Ministro do Japão, era responsável pelo Templo Meguroku Rakanji que sempre foi freqüentado por importantes nomes do cenário político, econômico e social do Japão, tal como o do fundador do Aikido, Kaiso Morihei Ueshiba. Outros nomes podem ser citados: Ryuho Okuyama, criador do Hakori Aikido; Shihan Kootaro Yoshida, praticante do Daitoryu Aikijujitsu e discípulo de Sokaku Takeda (importante nome do Daitoryu Aikijiujitsu, que treinou com o fundador do Aikido, Mestre Morihei Ueshiba, na província de Hokkaido); Setsu Suenaga, político influente e líder do jojitsu (arte marcial) e paciente de Reishin Kawai (Chiang Kai-shek (1887-1975), líder do Partido Nacionalista da China, o Kuomintang, e presidente da China e posteriormente de Taiwan, fez treinamentos militares no Japão por influência e recomendação de Setsu Suenaga que também conhecia seu chefe, Son Bun (1866-1925), um importante lider político da China); Seigo Nagano, ex-Primeiro Ministro e membro do Aikido Hombu Dojo, que tinha como secretário Takashi Hasegawa (Seigo Nagano morreu praticando o seppuku (suicídio honroso ou harakiri) por não ser ouvido na sua luta contra a participação do Japão na Segunda Grande Guerra Mundial); Taketora Ogata, Vice-Primeiro Ministro na gestão do Primeiro Ministro Shigueru Yoshida (Seigo Nagano e Taketora Ogata foram companheiros dos bancos escolares e contratados pela empresa jornalística Asahi Shimbum por influência de Setsu Suenaga); Ryuken Nakamura, mestre de Iaido (tatsujin) e conhecido de Morihei Ueshiba.
          O Arcebispo e Cardeal Doutor Nagayassu Minamoto, que tem como esposa Kamo Tsubaki Hime, indicou o nome de Reishin Kawai para sucedê-lo no patriarcado de seu clã. Quando Reishin Kawai precisou responder se aceitava esta missão sentiu uma grande dificuldade em decidir-se.
          Reishin Kawai tem a recomendação para se tornar um “Ryoshin Ryu Bui Kanguen-jutsu Shiatsu Ryoho” (médico em medicina oriental) do Palácio Imperial para cuidar da saúde do Imperador Showa. Esta sugestão partiu de Aimassa Irie e da esposa do Conde Kensho Ueshigue, com os quais Reishin Kawai mantinham um relacionamento estreito. A mãe da princesa Mikassa, Kuniko Takagui, a esposa do Conde Kensho Ueshigue e Aimassa Irie eram primos. Por outro lado, Conde Kensho Ueshigue era irmão da esposa do Duque Rikeri Okubo que era filho de Toshimiti Okubo, primeiro Ministro da Fazenda do Japão da era Meiji. Kensho Ueshigue era 15º na descendência de seu clã e Takanori Ueshigue o 16º e a esposa deste, Sra. Toshiko, era prima da imperatriz Showa. O pai da Sra. Toshiko, Duque Iemassa Tokugawa, foi presidente da Cãmara dos Nobres do Japão. Riken Okubo e esposa, Kensho Ueshigue e esposa e Kinya Fujita (primo de Riken Okubo e Vice-Presidente do Aikikai), cujo secretário particular foi Seiji Seko que exerceu o cargo de Diretor-Gerente do Aikikai, todos eles mantiveram relações de amizade com Reishin Kawai por mais de 20 anos.
          Diante deste quadro, antes de qualquer decisão, Reishin Kawai resolve empreender uma viagem de um ano para espairecer as idéias e vivenciar experiências em outras terras. Mas, ouviu várias recomendações contrárias a essa viagem vindas de pessoas como Gombe Yamato (diretor do Keidaren, equivalente ao Ministério da Economia), “Taicho” Takarabe (Ministro da Marinha), Eisuke Yamamoto (Comandante Geral da Marinha), Takeo Takagui (Vice-Presidente da Toho Rayon e presidente da Toho Petron) e esposa. Mesmo assim, seguindo o que seu coração, Reishin Kawai resolve viajar ao Brasil por um ano.
          No Brasil, andou pelo seu interior, visitando várias comunidades nipônicas, tratando da saúde das pessoas com acupuntura e shiatsu. E ao fim do prazo, resolve prolongar sua estada no Brasil por insistência de seus pacientes.
Em 1961, o Mestre Munashigue, 9º dan de Aikido, representante internacional do Aikikai, determinou para que Reishin Kawai fosse representante do Aikido no Exterior cuidando desta arte marcial no Brasil.
          Em 09/01/1963 abriu sua primeira academia no centro de São Paulo.
          Em 28/02/1963 recebe o título de Shihan, concedido pelo Mestre Morihei Ueshiba. 
         Em 19/10/1963 casa-se com Sra. Letícia Minako. Sra. Letícia descende de parte da família imperial do Imperador Saga. Yoshifussa, filho do imperador Saga foi político influente exercendo altos cargos na política japonesa chegando “Dai jo Daijin” (equivalente ao atual nível de 1º Ministro). Na dinastia do Imperador Koko (830-887), o herdeiro Mototsune recebe o título de Kampaku (título dado pelo imperador significando posição de importância na política do Japão). Neste clã contam-se ainda outros 18 nomes de “Dai jo Daijin” e seis nomes de “Kampaku”.
          No início de 1968, concedeu a medalha de Honra ao Mérito da Associação Interamericana de Imprensa ao Mestre Morihei Ueshiba.
          Em outubro de 1968, Reishin Kawai vai ao Japão para discutir as condições para se tornar o “sooke” (comandante supremo) do Aiki-no-jutsu. Encontrou-se também com o Mestre Morihei Ueshiba e com seu filho Kishomaru e admirou-se pela personalidade de ambos e resolveu permanecer ligado ao Aikido do Hombu Dojo.
          O Monge Zengui Takaki do templo Meguro Rakanji, por ordem do diretor geral da Nihon Shotoku Taishikai, ligada a seita Kaminoya do templo Isse Kodaijingu, veio ao Brasil trazendo uma imagem do deus Amaterasu Oomi Kami para um templo no Guarujá-SP. Morihei Ueshiba era conhecido do monge Zengui Takaki que promoveu, no Japão, um grande acontecimento no Templo Fukugawa Hatiman, convidando figuras importantes, para homenagear Reishin Kawai.
          Concedeu o título de Conde da Igreja Católica Apostólica Ortodoxa ao mestre Morihei Ueshiba.
          Concedeu o título de Comendador da Ordem dos Cavaleiros da Concórdia (Equitum Concordiae Ordinis) ao mestre Morihei Ueshiba e a Kishomaru Ueshiba. Esta Ordem foi criada em 1246 pelo rei da Espanha, e é considerada uma das mais antigas ordens do planeta. Foram agraciados por comendas desta ordem personalidades como os dos presidentes John Kennedy e Jucelino Kubstchek.
          Em 1970, uma ex-secretária do Presidente Getúlio Vargas, que se admirou pela eficácia de suas habilidades de tratamento, convidou insistentemente para que fosse trabalhar nos Estados Unidos, porém, seu sogro foi contrário e resolveu ficar no Brasil.
          Em 1973, Kitisaburo Ozawa, mestre 9º dan do Hombu Dojo, recomendou que cortasse os laços de relacionamentos com a dissidência do Aikido Shin Shin Toitsu e com o seu criador Koiti Tohei e continuasse fiel às orientações de Kishomaru Ueshiba.
          Em 1975, Dr. Carlos Lacaz, diretor de Faculadade de Medicina da USP e ex-Secretário da Saúde do Estado de São Paulo, sofria de incontinência de soluços e Reishin Kawai o curou. Deste contato resultou num convite do para lecionar Medicina Oriental na USP. Teve de recusar a este convite por não dispor de tempo em sua agenda
          Em 1976, o Catedrático da Toyo Shinkyu Gakko (Escola de acupuntura), Dr. Mitimassa Nishizawa, também paciente de Reishin Kawai, considerou que sua técnica, o Ryoshin ryu bui kanguen jutsu shiatsu ryoho, é a melhor do Japão.
          Em 1978, Kishomaru Ueshiba, o então Dosho, foi convidado por Reishin Kawai a visitar o Brasil, Uruguai e Argentina. Nesta ocasião, Kishomaru Ueshiba teve uma conversa reservada com Reishin Kawai na qual comentou a respeito de uma carta recebida do Brasil que maldizia, de forma ofensiva, o caráter de Reishin Kawai. Recomendou que não desse importância a mesma e continuasse normalmente seu trabalho em prol do Aikido no Brasil. Neste encontro, Reishin Kawai reconhece a grandeza de espírito da figura do Dosho. Esta carta referia-se a Reishin Kawai como alguém mais radical do que os comunistas. Seigo Yamaguti, 8º dan de Aikido, comentou este fato ditando um provérbio japonês que diz: “só as árvores altas sentem o vento”, isto é, quanto mais importante se torna, mais ataques recebe. Kawai, lembrando que o Primeiro Ministro Shigueru Yoshida fora duramente criticado por Sanzo Nozaka, um comunista, percebeu que quanto mais famoso ficava um personagem mais criticado era. Assim, Reishin Kawai conformou-se com as ofensas.
          Em 1979, fundou a Federação Paulista de Aikido, ocupando o cargo de presidente por seis anos. A partir de então, acumulou vários outros cargos: Presidente de Honra Federação de Aikido do Paraná; Conselheiro da União Argentina de Aikido; Presidente de Honra da Associação Peruana de Aikido; Presidente de Honra da Associação de Santa Catarina de Aikido; Presidente de Honra da Associação de Aikido de Salvador, Bahia.
          É ainda detentor de três comendas de comendador, duas comendas de grão-oficial e três comendas de grão-cruz.
          Em 1980, participa em Paris do Congresso Internacional de Aikido, quando foi nomeado vice-presidente da Federação Internacional de Aikido exercendo este cargo por oito anos consecutivos.
          Iniciou um relacionamento com Kajia Iwata, 9º grau de Aikido e com Ryujiro Shirota, 9º grau de Aikido, aos quais intercedeu para conferir a comenda Ana Nery.
          Em 1986, foi Milão, Itália e participou de Demonstração Internacional de Aikido, patrocinada pela Federação Internacional de Aikido.
          Em 1990, Kishomaru Ueshiba, Doshu do Aikido Hombu, vem ao Brasil, Uruguai e Argentina e o Mestre Reishin Kawai acompanhou-o durante toda sua estada preocupado pela frágil condição de saúde do Doshu.
          Em outubro de 1960, foi ao Japão para participar dos Festejos de 60º aniverssário do Hombu Dojo realizado no Keiyo Plaza Hotel de Tokyo.
          Em 1995, o presidente da Federação de Aikido de Hiroshima, Shihan Massakatsu Kitahira veio ao Brasil.
          Enviou ao Japão para treinamentos vários alunos(com as passagens e estadia no Hombu dojo)
          Em 1995, Herbert Gomes Pizzano, foi ao Hombu Dojo para treinamentos.
          Em 1996, Mestre Seijiro Massuda, Diretor Técnico do Hombu Dojo, veio ao Brasil, visitando também a Argentina.
          Em 1996, foi ao Japão para treinamentos no Hombu Dojo, Yassushi Nagao, Antonio Pádua, José Luiz Angelita (Argentina) e Silvia Corte (Argentina).
          Em 1996, veio ao Brasil o Secretário Geral Hombu Dojo, Shihan Massatake Fujita acompanhado do Shihan Massakatsu Kitahira.
          Em 1997, veio ao Brasil Shihan Shoji Seki, 7 º grau.
          Em 1997, veio ao Braisl Shihan Massatake Fujita e Shihan Massakatsu Kitahira.
          Em 1997, foi ao Hombu Dojo para treinamentos, Roque Vargas Filho, Sérgio Furuyama, Orlando Garcia (Chile) e Manoel Victor Merea (Peru).
          Em 21/02/1998, faleceu sua esposa Sra. Letícia Minako.
          Em 1998, veio ao Brasil Shigueru Sugahara, 6º grau.
          Em 1998, veio ao Brasil Shihan Massatake Fujita, 8º grau.
          Em 1998. foi ao Hombu Dojo, Antonio Rodrigues, José Roberto Bueno e Enrico Guizones. Após o término do período de treinamentos visitaram Osaka, Nara e Kyoto, ciceroneados pelo irmão mais velho de Reishin Kawai.
          Em 1999, veio ao Brasil, Shihan Massatake Fujita.
          Em 1999, foi para treinar no Hombu Dojo, Roberto Nobuhiko Maruyama e Ricardo Montenegro. Visitaram Osaka, Nara e Kyoto, acompanhados pelo irmão mais velho de Reishin Kawai.
          Em 2000, veio ao Brasil pela 6ª vez, Shihan Massatake Fujita.
          Em 2001, foi ao Hombu Dojo, Paulo Fujita e Edgard Novelino. Acompanharam os dois, mas sob suas expensas, Carlos Alberto Grisalt. Também visitaram Osaka, Nara e Kyoto ciceroneados pelo irmão de Reishin Kawai.
          Em 2001, participou dos festejos do 70º aniversário do Hombu Dojo, realizado no Keiyo Plaza Hotel de Tokyo, Japão.
          Em 2001, veio ao Brasil, Shihan Massatake Fujita.
          Em 2002, veio ao Brasil, Shihan Massatake Fujita.
          Em 2003, veio ao Brasil, Shihan Massatake Fujita, acompanhado de sua esposa.
          Em 2003, realizou a Demonstração anual de Aikido, nas dependências do Sesc-Pompéia, comemorando o 40º aniversário do Aikido no Brasil, recebendo a visita do Shihan Katiya Nakamura, 7º grau, presidente da Federação de Aikido de Yamaguti-ken.
          Em março de 2004, veio ao Brasil, Shihan Massatake Fujita, acompanhado de sua esposa.
          Em outubro de 2004, visitou o Brasil, Shihan Seijuro Massuda, 8º grau.
          Em novembro de 2004, a União Sul-americana de Arte do Aikido, promoveu a demonstração anual no Estádio Mauro Pinheiro no Ibirapuera.
São Paulo, fevereiro de 2005.
Todos os acontecimentos estão baseados em cartas fotos e documentos que comprovam a legitimidade desta biografia.
Texto reproduzido integralmente do site da União Sul-Americana de Aikido

 

Um dos momentos mais emocionantes no Japão foi certamente o treino realizado no Ibaraki-shiju dojo, que a maioria de nós conhece apenas como o dojo “do inferno” ou “de Iwama” . Na verdade, a pequena cidade de Iwama não existe mais como município independente e agora é agregada à prefeitura de Ibaraki. O dojo, construído pelo O-sensei Morihei Ueshiba, está sob responsabilidade do sensei Isoyama e recebe pessoas de todo o mundo que vêm para ficar como alunos internos (uchi deshis) ou treinar como visitantes, que foi o meu caso.

DSC_0132-1A viagem para lá leva cerca de duas horas saindo da estação de Shinjuku do JR (Japan Rail). De lá é preciso ir até a estação Ueno (25 minutos pelo JR) e então pegar o trem que passa em Iwama. Há poucos horários, então é preciso se informar com antecedência. Para quem vem do aeroporto de Narita, é necessário pegar a Kesei line até a estação de Nippori e depois a Joban line para Iwama.

 

Placa na estação de Iwama.

Eu e meu grupo (11 pessoas) saímos bem cedo de Tokyo, onde estávamos treinando no Hombu dojo porque nosso treino seria bem no começo da tarde. Chegando na pequena estação que corta a "cidade" o funcionário que gentilmente nos atendeu, ouvindo as palavras "Aikido dojo", rapidamente nos deu um mapa improvisado indicando o caminho. Todo o percurso não leva mais de 10 minutos e passa por ruas bem estreitas e calmas. Talvez devido a hora ou mesmo a tranquilidade da vila não se ouvia nada nem ninguém.

 

DSC_0133DSC_0134  DSC_0138 DSC_0139   

A estação de Iwama e o caminho até o dojo. Imagens: Rainer Gauger 

 

Seguindo as indicações, chegamos a um rua bem estreita de onde se avista primeiro o templo Aiki, que o fundador construiu em 1943. Do outro lado, um pequeno caminho de terra leva ao dojo (este construído em 1945). Um aluno do dojo estava terminando a limpeza do templo e nos recebeu dizendo que o sensei Isoyama logo estaria lá. Ele nos conduziu pela propriedade de onde, aos poucos, apareciam vários outros uchi deshis, todos já vestido com o dogi. Mais tarde, um deles me explicou que há sempre dois treinos por dia (um pela manhã e outro a noite) e que esse da tarde era especial e reservado aos dias em que o dojo recebe visitas. Isoyama sensei estava se recuperando de um cirurgia no joelho e era a primeira vez que ia ao dojo em muito tempo. Isso explicou em parte a alegria dos alunos internos em poder estar com ele e mostrou a importância desse dia. Aliás, foi interessante observar também a disciplina do alunos quando o sensei chegou: todos estavam enfileirados no caminho por onde ele passaria enquanto um aluno abria a porta do carro para ele e outro nos orientava a esperá-lo em seiza numa pequena ante-sala do dojo. Imediatamente depois das apresentações o sensei falou que iríamos ao templo Aiki e perguntou se estávamos prontos. Dito isso, saiu rapidamente conosco atrás nos esforçando para acompanhá-lo.

DSC_0143

O templo Aiki. Imagem: Rainer Gauger

Isoyama sensei nos explicou que, diferente da nossa cultura onde basicamente temos um só deus, aquele templo foi erguido para 43 divindades (ou kamis) e que isso é arraigado na cultura japonesa e do Ueshiba sensei. Ele então conduziu uma pequena cerimônia onde participamos nós e os alunos internos do dojo.

Estar naquele lugar construído pelo O-sensei e participar da pequena cerimônia que ele deve ter repetido inúmeras vezes ali foi realmente especial.  Iwama parece ser uma cidade tranquila e aquele local ainda mais. Durante a cerimônia, só se ouvia a voz do sensei e o vento passando pelas portas abertas do templo. Desde quando comecei a me preparar para ir ao Japão, um dos meus desejos sempre foi poder ir a Iwama mas não sabia se seria possível treinar lá. Entrar no templo Aiki foi muito mais do que desejei, então tudo o que pude fazer nessa hora foi agradecer por poder estar ali. Finalmente, o sensei pediu que voltássemos até o dojo e que os alunos fechassem as portas do templo. Meus colegas saíram rapidamente mas eu tive de perguntar se poderia ajudar os alunos. Parece bobo, mas imaginei quantas pessoas não-uchi deshis (e mesmo eles) já tiveram a oportunidade de fechar as portas daquele templo…

Voltamos ao dojo, o treino começou e pude continuar a entender os alunos: muitos dos mais novos nunca haviam treinado (ou treinado muito pouco) com o sensei e ele tem um carisma imenso. Nos contou algumas passagens de seu tempo com o fundador e fez um treino bem descontraído. O clima era de festa mesmo e dava para sentir o profundo respeito e admiração daquelas pessoas por ele. Éramos 21 pessoas, de várias partes do mundo, treinando auma arte que começou a se desenvolver justamente naquele lugar. Eu pessoalmente me senti dentro de um dos vários vídeos que assisti do O-sensei ali com seus alunos. O Isoyama sensei comentou que o espírito do fundador permanece ali com em nenhum lugar. Mágico mesmo…

DSC_0165

Isoyama sensei. Imagens: Rainer Gauger

Isoyama sensei fez questão de chamar todos os yudanshas presentes (que bom que fiz exame!) como ukes e é impressionante a força dele. Meus colegas estavam apreensivos porque seria meu primeiro treino desde que havia machucado as costas alguns dias antes mas não pude perder essa oportunidade. Quando o sensei me chamou, eu já nem sentia mais dor alguma…

DSC_0182 DSC_0183

O dojo de Iwama. Imagens: Rainer Gauger e Luciana Fernandes

Depois do treino, fomos convidados a tomar chá na área externa da propriedade e foi um momento muito divertido e informal. O sensei nos fez diversas perguntas e brincou com todos nós a respeito do pequeno número de meninas presentes. Havia outros alunos estrangeiros lá e pudemos trocar informações a respeito da rotina deles no dojo, além de endereços e contatos. Quando o sensei precisou se retirar, a cena da fileira dos alunos se repetiu mas todos estavam sorrindo e pareciam bem felizes. Aí pudemos dobrar hakamas, nos trocar e tirar algumas fotos antes de iniciar a viagem de volta.

DSC_0149 DSC_0162

A grupo, antes e depois do treino. Imagens: Ricardo (uchi deshi)

DSC_0187 DSC_0189

Lado externo do dojo. Imagens: Rainer Gauger

DSC_0197

Aiki Shrine. Imagens: Rainer Gauger

NOTA 1: Eu levei duas câmeras fotográficas e não lembrei de fazer foto nenhuma. Obrigada aos colegas que me cederam as suas.

*Este é um texto que faz parte dos relatos da viagem ao Japão que fiz entre setembro e outubro de 2009.

 

fireworks-1-715929Bom, ainda é o mesmo blog, com o mesmo conteúdo e a mesma autora mas o Onegaishimasu está com um novo template e de volta à ativa em 2010. Muito obrigada a todos que acompanharam os textos, deixaram sugestões nos comentários e no e-mail. Fica muito mais divertido escrever quando sei que pessoas tão bacanas estão por aqui.

Um grande abraço e um ótimo ano para todos!