Imagem: bbteca

Já ouvi várias vezes, e concordo, que cada pessoa inicia sua prática de aikido com uma determinada expectativa. Pode ser deixar de ser sedentário, buscar auto-conhecimento, equilibrar o stress ou a agressividade ou mesmo se integrar a um grupo social. Conheço pessoas que desejavam aprender a se defender fisicamente e outras que vieram treinar porque conheciam a arte há muitos anos e sempre se identificaram com a filosofia relacionada à sua prática. Qual destes objetivos era o meu? Qual era o seu? Qual deles é "mais válido"? Penso que nenhum... ou todos.

Todos os dias nos dojos do mundo afora pessoas com desejos diferentes treinam juntas e em harmonia. Na verdade, harmonia é a palavra-chave e o que permite a convivência de pessoas tão diversas é a tolerância com que tratam umas às outras e aceitam suas expectativas. Alguém que quer aprender a respirar melhor pode treinar em total sintonia com outro preocupado apenas com a eficiência da técnica. Outro, que acha lúdico o treino de ukemis, consegue tirar proveito do treino com alguém que acha aborrecido e quer mesmo é treinar com armas. Acontece que todas essas pessoas acabam, cada uma em seu caminho, se dirigindo para o mesmo lugar. Depois de um tempo, essas diferenças se tornam irrelevantes e mesmo que esses caminhos não sejam necessariamente os mesmos (porque o ponto de partida não foi), a tendência é, se não o abandono do objetivo único inicial, a agregação de outros fatores. É a prática que nos leva a chegar nesse ponto comum que, para mim, representa uma evolução pessoal, um desenvolvimento do nosso espírito.


NOTA (para todas as meninas que perguntaram):
Como mulher aikidoca, raríssimas vezes fui vítima de alguma intolerância mas, quando aconteceu, foi muito chocante, exatamente por ser tão inesperado. Ter um julgamento sobre alguém por ser mulher, criança, forte, magro ou ter um estilo de treino diferente do nosso é normal, nós analisamos o que nos rodeia com base no que vemos. Deixar de treinar com alguém ou achar que que esse alguém é menos capaz por suas características, além de significar ter uma ideia preconcebida, um preconceito, é discriminação. Um exemplo clássico é quando alguém diz que outro treina de uma forma "errada" só porque é diferente da "sua" forma ou a do seu sensei, ou seja, uma visão pobre justamente porque é baseada tendo apenas a si próprio como referência. Também já ouvi alguém dizer que tem medo de treinar com mulheres por causa da probabilidade de machucá-las. Penso que qualquer pessoa espera que o seu parceiro de treino pratique tendo em mente sua limitação (e capacidade!) técnica e não sua condição de mulher (ou qualquer outra, veja esse post). Apesar disso, acredito que o mais importante é que esse tipo de atitude também muda naturalmente com o passar do tempo confome nós vamos evoluindo, elevando muito nossa possibilidade de aprendizado.

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